quarta-feira, 24 de maio de 2023
Empresária é presa por manter afilhada em situação de escravidão por 15 anos
O reencontro emocionante com a mãe ocorreu no 6º Distrito Policial, horas após o resgate.
“Nas poucas saídas de casa, quando ela ia deixar a criança autista [filho da suspeita] na escola, conheceu um rapaz. Ele tomou conhecimento do caso, procurou uma terceira pessoa que nos acionou. Fizemos um levantamento e constatamos os crimes, uma situação de penúria e tristeza”, disse o delegado Odilo Sena, titular do 6º Distrito Policial.
A vítima vivia encarcerada e em condições degradantes desde os 12 anos de idade.
“Essa jovem, desde os 12 anos de idade, vivia em cárcere privado, sendo obrigada a realizar todas as tarefas domésticas, onde a dona da casa a mantinha sob constantes ameaças, além das torturas físicas e psicológicas. Passou 15 anos morando num inferno. Além dos trabalhos domésticos também era a responsável pelos cuidados de outra criança”, relata o delegado.
Vítima relata ameaças de morte
A a vítima contou que era proibida de frequentar a escola, praticamente, não tinha autorização para sair e foi impedida de retornar para casa dos pais. Ela também relatou que as agressões e ameaças de morte eram diárias.
“Era briga todo dia, ameaça de morte. Todo dia ela me ameaçava de morte. Ela dizia que eu não fazia as coisas direito. Às vezes, ela saia para festa e chegava de manhã e dizia que eu tinha batido no filho dela, mas eu não tinha batido”, disse a vítima.
A mãe, que também não quis ser identificada, contou que a filha foi convidada para passar o feriado da Semana Santa em sua casa, mas que depois foi impedida e ameaçada, caso fosse buscá-la ou mantivesse contato.
“Ela me pediu para que ela fosse passar a Semana Santa com ela, que depois ela entregava a menina, mas não entregou. Cheguei a vir buscar a menina, mas ela me ameaçou, disse que ia dar parte de mim e que eu ia morrer na prisão. Fiquei com medo. Tentei buscar ela, mas como me ameaçou, eu fiquei com medo. Tentava falar por telefone, mas ela me bloqueou. Não tinha mais contato com ninguém”, contou a mãe que pede Justiça.
Após prestar depoimento no 6º DP, a vítima foi encaminhada ao Instituto Médico Legal (IML) para o exame de corpo de delito. Segundo o delegado, a jovem possui diversas marcas de agressões recentes e antigas espalhadas pelo corpo.
“Ela está com as costelas machucadas e com os lábios machucados. Ela pegou uma surra ontem e na semana passada também. Ela tem marcas antigas pelo corpo, uma constatação clara da maldade e perversidade humana”, frisou a autoridade policial.
Odilo Sena revelou ainda que as investigações também apuram denúncias de que o companheiro da empresária agredia fisicamente a criança autista. “Começamos a receber as informações e vamos apurar também. Se ele estiver envolvido ele vai responder por isso”, concluiu.
Veio para Teresina para melhorar de vida
A vítima é natural do povoado Veredão, na cidade de Chapadinha, no Maranhão, onde residia com os pais. Ela veio para Teresina ainda criança com a promessa de uma vida melhor.
“Os pais da vítima são de baixa renda e possuem poucas instruções. A acusada, que é prima de 2º grau da jovem, trouxe a jovem para capital e, posteriormente, passou esconder informações sobre o paradeiro da moça”, completou Odilo, acrescentando que a família já havia tentado outros meios de resgatar a jovem sem sucesso.
Francisca Danielly será indiciada por cárcere privado, redução a condição análoga à escravidão, tortura física e psicológica. Além da esfera criminal, ela deve responder nas áreas cível e trabalhista.
Em 2020, a suspeita foi candidata a vereadora de Teresina em 2020, mas teve o registro indeferido. No site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) consta ainda que ela é fisioterapeuta e terapeuta ocupacional.
Caso perverso
O delegado Odilo Sena relata que se emocionou com o caso que o classificou como uma “perversidade”.
“Me emocionei algumas vezes. Essa menina tem 27 anos, mas é praticamente uma criança. Ela é muita sofrida, vem sofrendo há 15 anos. Foi separada dos pais. A presa é prima da mãe dela e [consequentemente prima dela], além de madrinha. Ela veio para estudar, mas isso não aconteceu. Cuidou dos filhos da acusada como uma escrava, é tanto que o filho autista da acusada a chama de mãe. Ela apanhava, era humilhada psicologicamente, era oprimida e vivia para servir”, desabafa o delegado.
Do Cidade Verde
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