terça-feira, 5 de novembro de 2013
Suspeita de sabotagem fez Brasil investigar franceses em Alcântara
O VLS ficou totalmente destruído após o acidente que destruiu a torre |
Com a suspeita de que era espionado pela França, o Brasil investigou se agentes do serviço
secreto francês promoveram ação de sabotagem para explodir a base de lançamento
de satélites de Alcântara, no Maranhão.
Em 2003, um acidente no local matou 21 pessoas, entre engenheiros e técnicos
do CTA (atual Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial), órgão da Aeronáutica.
A Folha obteve documento secreto da Abin (Agência Brasileira de Inteligência)
que revela pelo menos três operações de contraespionagem cujos alvos eram espiões franceses e seus contatos brasileiros e estrangeiros.
Houve também monitoramento do serviço de inteligência em órgãos de cooperação e cultura ligados à Embaixada da França.
O objetivo era proteger o setor espacial brasileiro da espionagem internacional.
A Folha revelou ontem que o governo brasileiro espionou diplomatas de países como
Rússia, Irã e EUA. A Presidência afirmou que eram ações de contraespionagem.
O documento obtido pela reportagem evidencia que o Brasil monitorava o que os agentes
da Abin descrevem como "rede de espionagem" da DGSE (sigla de Direção-Geral de
Segurança Externa, a agência de inteligência da França), ativa no Maranhão e em São Paulo.
Um ex-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) confirmou à Folha que o
governo sabia da espionagem internacional em Alcântara. Após o acidente,
a investigação sobre a eventual sabotagem francesa prosseguiu, conforme disse um
ex-dirigente da Abin que pediu para não ser identificado.
Apesar das evidências de espionagem francesa, o governo não encontrou
provas de sabotagem. Oficialmente, a explosão foi provocada por uma pane
elétrica que causou ignição antecipada de um dos propulsores do foguete.
A localização da base brasileira no Maranhão é considerada uma das melhores
do mundo para o lançamento de foguetes com satélites comerciais, pela proximidade ao
Equador. A estimativa é que os lançamentos de Alcântara economizem até 30% em combustível.
Se desse certo, a base de Alcântara (que está sendo reconstruída) se transformaria
na única concorrente do Centro Espacial de Kourou, localizado na Guiana Francesa,
território que faz fronteira com o Brasil e que pertence ao país europeu.
Conforme documento obtido pela reportagem, ao menos desde 2002 a Abin vigiava
a movimentação de espiões franceses em Alcântara. Sob condição de anonimato,
um oficial de inteligência que acompanhou o caso disse que um dos alvos era um agente
francês do DGSE que se apresentava como Olivier. Ele atuava na região disfarçado
de professor de kitesurf, e recrutava informantes na base brasileira.
A Abin fotografou o francês e seus contatos.
Os agentes também descrevem no relatório ações para monitorar a rede de espionagem
em órgãos como Cendotec (Centro Franco-Brasileiro de Cooperação Técnica e Científica),
ligado ao consulado francês em São Paulo, e Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Até 2003, ao menos oito relatórios de inteligência foram produzidos sobre o caso.
Procurada, a embaixada da França não se manifestou.
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